Não é nada fácil aguentar uma dor que se prolonga no tempo. Para quem nunca teve esse problema, não é muito fácil conseguir explicar. A enxaqueca, pode ser um bom exemplo, para quem está tentando entender o que sente alguém que está com uma dor física permanente. Uma dor de cabeça que dure 3 dias já é bem debilitante. Uma dor física que se mantenha ao longo de um ano, encerra por si só uma condição mais fragilizada do corpo e da mente.
Uma pessoa que sinta dores, que um dia iniciaram e não desapareceram, tem muita necessidade de compartilhar essa queixa, e o faz não só para comunicar que algo não vai bem consigo, mas também porque esta vivência é surreal. A pessoa que sente quer que alguém entenda, e de preferência o salve desse inferno.
Há um trecho de um livro, não só importante para aqueles que compartilham deste problema, mas relevante também para quem é familiar ou amigo de paciente com dor crônica, que diz o seguinte:
"Sentir dor física é estar num terreno diferente, num estado do ser diferente de todos os outros, numa montanha mágica tão distante do mundo conhecido, como a paisagem de um sonho"
(Melanie Thernstrom, em As Crônicas da Dor)
Ainda para quem acha isto exagero, tente imaginar que quando uma dor aparece, geralmente ela cede e acorda-se dela como de um pesadelo, tentando esquecê-la o mais rápido possível. Mas, e a dor que persiste? Querendo voltar ao corpo, às idéias e ao mundo normal, você se pergunta: Você não vai embora nunca?
Este estado, tão distante do mundo, como descreve a autora, encerra o ser humano que sofre com isso, numa grande solidão. Isto acontece, em parte, porque as pessoas não percebem bem porque a dor persiste. perguntam se não será psicológica ou frescura. Por outro lado, ver alguém que amamos nessa prisão, é também gerador de sofrimento. Dá um sentimento de impotência que às vezes pode gerar um distanciamento dos outros.
Num outro blog sobre este tema, o autor comenta que a dor crônica traz muitas perdas pessoais, sociais e econômicas. E isso é verdade porque os tratamentos não cabem no bolso de todos.
A pessoa com dor crônica, muitas vezes se desconecta de si própria, da sua natureza, não conseguindo fazer o que fazia, nem ser o que era..esta situação causa isolamento..amigos se afastam por não entender tanto silêncio.
A dor é física, mas deixar de ser o que era, de fazer o que fazia, ter os sonhos adiados, não conseguir gerir a demanda da vida, a todos os níveis, inclusive a nível profissional, enfim..essa é uma dor da alma que lateja muito, muito mesmo.
Para quem adoece, seja com uma gripe, ou com uma doença grave, esta pessoa, durante um período de tempo, terá de se munir de coragem, fé, paciência, tomar os medicamentos na hora certa, ter disciplina e determinação...algumas vezes driblar até a morte. Na dor crônica, a dor vence muitas vezes a paciência. O esforço da disciplina nem sempre é recompensado..Instala-se um cansaço físico que parece ser irrecuperável..é uma prova de resistência, sem fim à vista.
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