segunda-feira, 10 de junho de 2013

O que dói mais: a dor física ou a descrença alheia?


Preconceito é desinformação

Ao longo deste trajeto, tentando encontrar cura e alivio para as dores, ouvi de médicos e outros profissionais da saúde, entes próximos e distantes, amigos ou até "burburinhos" de desconhecidos: tudo aquilo que quis e não quis ouvir.
Comentários como: Você é muito jovem! Está desocupada? Parece bonita e saudável, preencheram um bocado da minha trajetória e só serviram para cutucar uma ferida bem aberta
Alguns perguntam: a dor é subjetiva ou objetiva? Física ou Psíquica? Varia de pessoa para pessoa?
Enfim, estas perguntas só acrescentam um peso a mais a quem já se sente doente.
Veja, se a dor crônica é uma doença ou um problema decorrente de uma causa sub-diagnosticada ou não tratada, então, certamente a pessoa que a sente não está saudável, não está em equilíbrio,  e isto é igual a sentir-se doente. 
Alguém doente precisa de ajuda. Logo, se a pessoa sente dor permanente e há longo tempo, é porque isso faz parte do real, do concreto daquela pessoa e não do seu imaginário. Entretanto, o corpo e a mente são um mecanismo que não funcionam separados: se um adoece, o outro vai ressentir.

Mas calma, se a dor é uma doença, porque a descrença de que estou sentindo dor, de que ela é forte e de que faz tempo que a suporto? Tenho que aguentar com os dentes cerrados e em silêncio? Serei eu frágil demais para aguentar uma dor que outra pessoa aguentaria com uma perna ás costas? 
Nada disso, o fato é que esta questão sobre a dor crônica, está profundamente entranhada  em termos culturais, sociais e psicológicos. É uma doença que resiste à mensuração e é fácil desprezar os relatos de pacientes por não acreditar neles.Por outras palavras, a sociedade não absorveu conhecimentos suficientes sobre a dor crônica, e daí surgem situações de ignorância e falta de respeito, ceticismo e preconceito com a dor que perdura. Este saber está nas mãos de grupos pequenos de especialistas de dor, espalhados pelo mundo.
Como exemplo, buscamos a questão da Depressão. Também foi uma doença negada e estigmatizada, até ser reconhecida como doença, que tem base orgânica e pode ser potencialmente fatal, tendo componentes psicológicos e fisiológicos!
Se a dor crônica é uma doença que debilita o corpo e a mente, que vai alterar o funcionamento do seu organismo, moldar o seu corpo, baixar a sua imunidade,aumentar o stress, pode levar ao isolamento, à depressão, à ansiedade e até algumas vezes ao suicídio, se esta doença pode ser fatal, então porque não é respeitada? porque o paciente é vitima de preconceito?

Ser diferente não fácil - O julgamento de outros
Diz Daniel B. Carr do Centro de manejo da Dor em Inglaterra: "A dor crônica é como o dano que a água provoca. Se durar muito, a casa cai. O nosso serviço é salvar a pessoa esmagada, localizar a fonte da dor - o vazamento, a instabilidade estrutural e começar a reconstruir a vida dessa pessoa, também em termos psíquicos e sociais".

Poxa, então porque é tão difícil entender a sua gravidade e tratar os pacientes com respeito. Aqui, eu não reivindico um estatuto de doente, mas sim, pura e simplesmente, um pouco de respeito.

Ainda que haja consenso científico sobre a realidade da doença, ela não obteve aceitação generalizada fora do círculo dos especialistas da dor.
No seu livro, As Crônicas da Dor, a autora faz várias referências ao tema do preconceito e da descrença. Explica que a dor cronica manifesta-se mais frequentemente em mulheres. Ao longo da sua pesquisa, ela descobriu que existiam milhares de casos de mulheres cuja credibilidade é posta continuamente em causa
Se queixam-se demais, estão exagerando, se apresentam-se á consulta arrumadas ou coradas pelo sol, não estão suficientemente doentes...
Um estudo norueguês chamado It's Hard Work Behaving as a Credit Patient", algo como: Dá trabalho comportar-se como um paciente de crédito, mostrou o modo como pacientes mulheres tentavam seguir "regras ocultas' de enfrentamento com o médico para obter ajuda. 
Lutas são travadas para apresentar a dor da "maneira certa", tornar os sintomas "físicos, reais e visíveis , não bancar a forte demais, nem tão fraca, nem tão saudável, nem tão doente..
Ainda de acordo com a pesquisa e com a minha própria história, faço minhas, as palavras das mulheres que participaram do estudo, quando revelam ter sido: rejeitadas, recebidas com ceticismo e a todo o tempo avaliadas em busca de fatores psicológicos.
A maior verdade que Melanie Thernstrom escreveu ao longo do seu livro: "O problema da dor é que ela soa inverídica para quem não a sente"e vai além quando coloca que: "muitas vezes é importante que o médico que trate também sinta dores crônicas ou seja pesquisador desse assunto por algum motivo.






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