quinta-feira, 13 de junho de 2013

A história de Dani - caso clínico

Se você se sente sozinha e até um E.T por ter uma dor que está custando te deixar, coloco aqui a história de Danielle, que é contada no livro As Crõnicas da Dor. De forma resumida, conto aqui:

Dani era uma mulher de 30 anos que tinha uma saúde excelente. Trabalhava como redatora autônoma e adorava praticar esportes. Quando terminava uma série de pesos na academia que frequentava, o professor aproximou-se dela e perguntou-lhe se podia ajudá-la em alguma coisa. 
Ele pediu para que Dani deitasse num colchonete para ajudá-la com os alongamentos. Ele optou por fazer um alongamento que usualmente não fazia, pedindo que ela virasse de bruços e segurou o tronco dela, fazendo um tipo de manobra quiroprática. Ela ouviu então um estalo, gritou de dor...e numa fração de segundos, a vida de Dani mudou.
A lesão herniara e desestabilizara a espinha. Dani perdeu o sono nessa noite, com dor e medo.Após 3 meses fazendo fisioterapia, a mobilidade foi recuperada, mas a dor não desapareceu. 
Assim iniciou-se uma grande peregrinação por mais de 85 médicos e muito dinheiro gasto. Quando conseguiu encontrar um bom emprego, descobriu que não conseguia ficar sentada durante tantas horas para cumprir seus deveres. Então, passou a trabalhar quando se sentia bem, com períodos em que tinha que se deitar.
Embora tendo o apoio do marido, Dani se sentia sozinha. Os amigos também não entendiam. Quando tentava explicar: "meu pescoço está em brasa", eles diziam que ela parecia normal. Quando digitava, as dores desciam pelos braços, fazendo os dedos formigar.
"Ter dor cronica é como estar em guerra com o corpo. Fiquei desanimadíssima. Percebi que a vida como eu a conhecia, acabou."

quarta-feira, 12 de junho de 2013

O ciclo vicioso da Dor Crônica

Quando uma dor inicia, causa uma reação orgânica desagradável e o nível de stress aumenta. Se uma pessoa fica sujeita durante meses ou anos à dor permanente, então a forma de sentir a dor no corpo e a reação emocional que a mesma provoca será diferente. Geralmente, as pessoas com dor crônica começam a se dar conta que vivem num ciclo vicioso de muito sofrimento mesmo. Quando a pessoa se dá conta, já está vivenciando esse ciclo que mais parece uma cadeia.
Funciona como na imagem:


Ou seja, ter dor continuada é uma fonte muito grande de cansaço, as pessoas com fibromialgia, por exemplo, sentem um cansaço extremo. Como mostra a imagem, a dor drena a energia vital. Essa falta de energia leva a pessoa a exercitar-se pouco, além de que, estar com dor leva o indivíduo a sentir um desânimo para as atividades do cotidiano e aquelas inclusive que lhe davam muito prazer, antes deste problema surgir. Essa falta de exercício e essa frustração por não conseguir fazer um grande número de coisas, leva a um aumento da dor e a preocupações a todos os níveis: "quando vou voltar a fazer o que fazia", "quando vou conseguir ter um emprego", "mais uma vez não consegui jantar fora", "ando mais triste", "não consigo aguentar mais esta situação", "na minha vida não há nada de lúdico"..enfim...são imensos e intensos os pensamentos que podem surgir. 
E tudo isso, esta avalanche de sensações e sentimentos vai afetar o sono. Esta parte é fundamental. Se a pessoa que tem este problema, começa a ter dificuldades para dormir, tanto  pela presença da dor quanto pelo próprio ciclo-vicioso que a dor causa, então aí, o estado do paciente pode piorar. A falta de sono em uma pessoa que não sofre deste problema já afeta muito a vida. Com este problema, não dá para imaginar, como o  organismo é afetado no seu todo. Pois a falta de energia é exacerbada, e isso aumenta mais uma vez a dor.


segunda-feira, 10 de junho de 2013

O que dói mais: a dor física ou a descrença alheia?


Preconceito é desinformação

Ao longo deste trajeto, tentando encontrar cura e alivio para as dores, ouvi de médicos e outros profissionais da saúde, entes próximos e distantes, amigos ou até "burburinhos" de desconhecidos: tudo aquilo que quis e não quis ouvir.
Comentários como: Você é muito jovem! Está desocupada? Parece bonita e saudável, preencheram um bocado da minha trajetória e só serviram para cutucar uma ferida bem aberta
Alguns perguntam: a dor é subjetiva ou objetiva? Física ou Psíquica? Varia de pessoa para pessoa?
Enfim, estas perguntas só acrescentam um peso a mais a quem já se sente doente.
Veja, se a dor crônica é uma doença ou um problema decorrente de uma causa sub-diagnosticada ou não tratada, então, certamente a pessoa que a sente não está saudável, não está em equilíbrio,  e isto é igual a sentir-se doente. 
Alguém doente precisa de ajuda. Logo, se a pessoa sente dor permanente e há longo tempo, é porque isso faz parte do real, do concreto daquela pessoa e não do seu imaginário. Entretanto, o corpo e a mente são um mecanismo que não funcionam separados: se um adoece, o outro vai ressentir.

O que as pessoas podem fazer para ajudar?

Nesse ponto, por opinião e experiência própria, acho que não existe receita mágica. Eu sofro de dores muito fortes há 5 anos, e aquilo que mais espero dos outros é que me ajudem a sair dessa encrenca. É difícil imaginar que alguém que tenha este problema não queira ajuda. Acho que por mais difícil que a vida possa se apresentar às vezes, todo mundo deseja (com alguma sanidade mental),viver uma vida feliz, tendo em conta que esta vida é passageira, não queremos que este trajeto seja tão pontilhado de sofrimento.


Sozinho com a Dor

Não é nada fácil aguentar uma dor que se prolonga no tempo. Para quem nunca teve esse problema, não é muito fácil conseguir explicar. A enxaqueca, pode ser um bom exemplo, para quem está tentando entender o que sente alguém que está com uma dor física permanente. Uma dor de cabeça que dure 3 dias já é bem debilitante. Uma dor física que se mantenha ao longo de um ano, encerra por si só uma condição mais fragilizada do corpo e da mente.
Uma pessoa que sinta dores, que um dia iniciaram e não desapareceram, tem muita necessidade de compartilhar essa queixa, e o faz não só para comunicar que algo não vai bem consigo, mas também porque esta vivência é surreal. A pessoa que sente quer que alguém entenda, e de preferência o salve desse inferno.
Há um trecho de um livro, não só importante para aqueles que compartilham deste problema, mas relevante também para quem é familiar ou amigo de paciente com dor crônica, que diz o seguinte:


"Sentir dor física é estar num terreno diferente, num estado do ser diferente de todos os outros, numa montanha mágica tão distante do mundo conhecido, como a paisagem de um sonho" 
(Melanie Thernstrom, em As Crônicas da Dor)